quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ENQUANTO ISSO NO AMAPÁ...

Cartas de Buenos Aires
Todos somos Famatina
A comunidade de Famatina, cidade localizada em La Rioja, no noroeste da Argentina, deu este mês um exemplo ao mundo.
Organizada, pacífica, conseguiu bloquear o início das atividades da mineradora Osisko Mining Corporation. E, se tudo der certo – e vai – mandarão para casa a empresa canadense que quer explorar ouro, e outros metais, numa região lindíssima aos pés da Cordilheira dos Andes.
Com uma altura de 6.250 metros acima do nível do mar, o local é há anos cobiçado por empresas estrangeiras por suas jazidas minerais. Mas os moradores da região lutam pela preservação de seu patrimônio natural como tigres.
Em 2007, mostraram força ao enfrentar a também multinacional canadense Barrick Gold. Com os mesmos lemas, “Com o Famatina não se mexe” e “A água vale mais que o ouro”, eles resistiram e conseguiram que a empresa abandonasse o projeto de exploração da mina.
Desta vez, os principais jornais e televisões argentinos mandaram enviados especiais à região, dando dimensão nacional ao problema.
Em pleno verão, não é pouca coisa tirar o foco dos biquínis e das artistas de Mar del Plata para colocá-lo em outras mulheres. Porque são elas, guerreiras, líderes de suas comunidades, que tocam o movimento. Carina Díaz Moreno, Lucy Avila, Paula Dávila, Gabriela Romano, para citar algumas.
A mineração a céu aberto é uma das atividades mais contaminadoras do mundo. Consome enormes quantidades de dinamite e água e emprega produtos químicos perigosos, como cianureto, em distintas fases do processamento dos metais. Polui o ar com o pó gerado, causa enfermidades respiratórias e asfixia plantas; tem grande chance de contaminar o lençol freático se houver vazamento de rejeitos. Sem falar que destrói totalmente a paisagem. As empresas mineradoras negam esses impactos.
Num misto de cara de pau e sem-vergonhice, o governador de La Rioja, Luis Beder Herrera, disse que a extração mineral em Famatina não provocará danos ao meio-ambiente e que a população está contra o projeto por “falta de informação”
Detalhe: ele fez toda sua campanha política defendendo o contrário.
Mesmo com o mal estar social e os protestos, a atividade mineira não para de crescer na Argentina. Nos últimos dez anos, o número de projetos cresceu 900% e o país pode vir a ser, em 2020, um dos seis maiores produtores de ouro do mundo e um dos cinco maiores de prata e cobre.
Venho de uma região que já teve minas de cobre exploradas tanto a céu a aberto como em galerias. Hoje, depois que deixaram de ser economicamente viáveis, o que restou por lá é um buraco gigante cheio de água. Tem gente que quer transformar o buraco num ponto turístico! Eu preferia que tivessem deixado o morro.

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